Lamentações 3 João Ferreira Almeida Atualizada (AA)

1. Eu sou o homem que viu a aflição causada pela vara do seu furor.   

2. Ele me guiou e me fez andar em trevas e não na luz.   

3. Deveras fez virar e revirar a sua mão contra mim o dia todo.   

4. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele; quebrou-me os ossos.   

5. Levantou trincheiras contra mim, e me cercou de fel e trabalho.   

6. Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos há muito.   

7. Cercou-me de uma sebe de modo que não posso sair; agravou os meus grilhões.   

8. Ainda quando grito e clamo por socorro, ele exclui a minha oração.   

9. Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas.   

10. Fez-se-me como urso de emboscada, um leão em esconderijos.   

11. Desviou os meus caminhos, e fez-me em pedaços; deixou-me desolado.   

12. Armou o seu arco, e me pôs como alvo à flecha.   

13. Fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava.   

14. Fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo, e a sua canção o dia todo.   

15. Encheu-me de amarguras, fartou-me de absinto.   

16. Quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza.   

17. Alongaste da paz a minha alma; esqueci-me do que seja a felicidade.   

18. Digo, pois: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor.   

19. Lembra-te da minha aflição e amargura, do absinto e do fel.   

20. Minha alma ainda os conserva na memória, e se abate dentro de mim.   

21. Torno a trazer isso à mente, portanto tenho esperança.   

22. A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim;   

23. renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.   

24. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele.   

25. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca.   

26. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.   

27. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade.   

28. Que se assente ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o pôs sobre ele.   

29. Ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança.   

30. Dê a sua face ao que o fere; farte-se de afronta.   

31. Pois o Senhor não rejeitará para sempre.   

32. Embora entristeça a alguém, contudo terá compaixão segundo a grandeza da sua misericordia.   

33. Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.   

34. Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra,   

35. perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo,   

36. subverter o homem no seu pleito, não são do agrado do senhor.   

37. Quem é aquele que manda, e assim acontece, sem que o Senhor o tenha ordenado?   

38. Não sai da boca do Altíssimo tanto o mal como o bem?   

39. Por que se queixaria o homem vivente, o varão por causa do castigo dos seus pecados?   

40. Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor.   

41. Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus no céu dizendo;   

42. Nós transgredimos, e fomos rebeldes, e não perdoaste,   

43. Cobriste-te de ira, e nos perseguiste; mataste, não te apiedaste.   

44. Cobriste-te de nuvens, para que não passe a nossa oração.   

45. Como escória e refugo nos puseste no meio dos povos.   

46. Todos os nossos inimigos abriram contra nós a sua boca.   

47. Temor e cova vieram sobre nós, assolação e destruição.   

48. Torrentes de águas correm dos meus olhos, por causa da destruição da filha do meu povo.   

49. Os meus olhos derramam lágrimas, e não cessam, sem haver intermissão,   

50. até que o Senhor atente e veja desde o céu.   

51. Os meus olhos me afligem, por causa de todas as filhas da minha cidade.   

52. Como ave me caçaram os que, sem causa, são meus inimigos.   

53. Atiraram-me vivo na masmorra, e lançaram pedras sobre mim.   

54. Águas correram sobre a minha cabeça; eu disse: Estou cortado.   

55. Invoquei o teu nome, Senhor, desde a profundeza da masmorra.   

56. Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor.   

57. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas.   

58. Pleiteaste, Senhor, a minha causa; remiste a minha vida.   

59. Viste, Senhor, a injustiça que sofri; julga tu a minha causa.   

60. Viste toda a sua vingança, todos os seus desígnios contra mim.   

61. Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus desígnios contra mim,   

62. os lábios e os pensamentos dos que se levantam contra mim o dia todo.   

63. Observa-os ao assentarem-se e ao levantarem-se; eu sou a sua canção.   

64. Tu lhes darás a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas mãos.   

65. Tu lhes darás dureza de coração, maldição tua sobre eles.   

66. Na tua ira os perseguirás, e os destruirás de debaixo dos teus céus, ó Senhor.