10. Em seguida, foi a vez do terceiro irmão ser torturado; quando lhe pediram, apresentou-se prontamente e estendeu corajosamente as mãos.
11. E disse com coragem: «Do céu as obtive, e por causa das suas leis eu as desprezo, e dele as espero de novo receber.»
12. O próprio rei e os outros que estavam com ele ficaram impressionados com a coragem do jovem, que não tinha em conta alguma os seus sofrimentos.
13. Morto igualmente este, torturaram e supliciaram da mesma forma o quarto irmão.
14. Estando prestes a morrer, disse ao rei: «Mais vale morto pelos homens, esperando nas promessas de que Deus de ser por ele ressuscitado, ao passo que para ti não haverá ressurreição para a vida.»
15. Em seguida levaram o quinto e supliciaram-no.
16. Ele olhou para o rei e disse: «Tens autoridade sobre seres humanos, sendo um mero mortal, e fazes o que queres. Mas não penses que o nosso povo foi abandonado por Deus.
17. Espera e verás o seu imenso poder, e como te há de torturar a ti e aos teus descendentes.»
18. Depois deste, trouxeram o sexto irmão que, prestes a morrer disse: «Não tenhas vãs ilusões. É que aquilo que estamos a sofrer é por nossa culpa, pois pecámos contra o nosso Deus, e coisas assombrosas nos sobrevêm.
19. Mas não penses que ficarás impune, já que tentaste lutar contra Deus.»
20. Extraordinariamente admirável e digna de memória foi a mãe que num espaço de um só dia, que viu os seus sete filhos morrerem e o suportou com ânimo e coragem, pela esperança que tinha no Senhor.
21. Ela exortava cada um deles na língua da sua pátria, e cheia de nobres sentimentos, combinava a coragem de um homem com a sua fibra de mulher, dizendo:
22. «Não sei como apareceram no meu ventre, nem fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem quem pôs em ordem os membros que compõem cada um de vós.
23. Com efeito, o Criador do mundo é o autor do nascimento do ser humano, quem deu origem a tudo e restituir-vos-á de novo o espírito e a vida, na sua misericórdia, porque não se têm em conta a si mesmos, por amor das suas leis.»
24. Mas Antíoco pensou que escarnecia dele, suspeitando na sua voz o tom de insulto; estando o filho mais novo ainda vivo, exortou-o, não somente com palavras, mas também com promessas de o fazer rico e feliz, a abandonar os costumes dos seus antepassados, e ainda o consideraria um dos Amigos do Rei e lhe concederia um cargo no governo.
25. Como o rapaz não lhe desse a mínima atenção, o rei chamou a mãe e insistiu com ela que aconselhasse o jovem a salvar-se.
26. Depois de muita insistência, ela aceitou convencer o filho.
27. Ela inclinou-se para ele e, troçando do cruel tirano, disse-lhe na língua da sua pátria. «Meu filho, tem compaixão de mim; trouxe-te nove meses no meu ventre e alimentei-te três anos; criei-te e cuidei de ti até à idade que tens.
28. Digna-te olhar, meu filho, para o céu e para a terra e vê tudo o que existe neles. Reconhece que Deus não o criou de coisas que já existissem, e da mesma forma criou a raça humana.
29. Não tenhas medo desse carrasco, mas sê digno dos teus irmãos e aceita a morte, a fim de que eu, pela misericórdia de Deus, possa receber-te de novo junto com os teus irmãos.»