16. Por isso, nunca afasta de nós a sua compaixão mas, ao castigar-nos com a adversidade, não abandona o seu povo.
17. Que estas palavras vos sirvam de lembrança. Mas finda esta breve interrupção, voltemos agora à história.
18. Eleazar, um dos mais destacados mestres da lei, homem avançado em idade e de belíssima aparência, foi forçado a abrir a boca e comer carne de porco.
19. Mas ele, preferindo morrer com honra a viver na abominação, caminhou voluntariamente para a tortura.
20. Cuspiu a carne, como devem fazer os que têm a coragem de rejeitar o que lhes não é permitido provar, mesmo por amor à vida.
21. Ora, os homens encarregados deste banquete ritual, proibido pela lei, em virtude de há muito conhecerem este homem, tomaram-no à parte e insistiram com ele para que levasse consigo carne de que lhe fosse lícito servir-se, preparada por ele mesmo, e fingisse estar a comer das carnes do sacrifício prescritas pelo rei,
22. a fim de, agindo assim, escapar à morte, e gozar deste gesto de humanidade da parte deles, em virtude da antiga amizade.
23. Mas ele tomou uma nobre decisão, digna da sua idade, devido prestígio que a sua velhice lhe dava, distinção conquistada com os seus cabelos brancos, como também da sua conduta impecável desde criança, mas principalmente digna da lei instituída por Deus; respondeu em conformidade que o mandassem, sem demora, para o mundo dos mortos.
24. Disse ele: «Não é digno da nossa idade fingir, para que muitos dos jovens não venham a pensar que Eleazar, com noventa anos de idade, se tenha convertido a costumes pagãos,
25. e para que, por causa do meu fingimento e só para prolongar um pouco mais a brevidade da minha vida, eles se não desviem por minha causa, e eu não atraia vergonha e desonra para a minha velhice.
26. E, mesmo que no presente momento eu me livrasse do castigo humano, não escaparia vivo ou morto, das mãos do Todo-Poderoso.
27. Portanto, se corajosamente deixar agora a vida, mostrarei ser digno da minha velhice.
28. E deixo também aos jovens um nobre exemplo de como se deve morrer voluntária e generosamente pelas nossas venerandas e santas leis.» Dito isto, imediatamente se encaminhou para o suplício.
29. Mas aqueles que o conduziam, pouco antes afetuosos para com ele, tornaram-se-lhe hostis por causa das palavras que ele tinha proferido, por as julgarem loucura.
30. Estando prestes a morrer por espancamento, soltou um gemido e disse: «Ao Senhor, cuja sabedoria é santa, para quem é tudo manifesto. Ele sabe que eu, podendo ter escapado da morte, suporto estas terríveis dores dos açoites; mas, na minha alma, sofro com alegria, porque o temo.»
31. Assim rendeu a vida este homem, deixando, não somente para os jovens, mas também para a maioria dos seus compatriotas, um modelo de nobreza e um memorial de virtude.